Cumpre esclarecer que minha maior vontade seria a de continuar compondo o quadro de associados dessa relevantíssima instituição para a defesa da democracia e dos Direitos Humanos e Sociais, já que dos 30 anos de sua existência assim me mantive durante 23 anos, sempre com excelentes interlocuções, adoráveis vínculos de amizade e revigorantes experiências.
Ocorre que as companheiras Valdete, Daniele e Emília, componentes do conselho da entidade, cuja gestão se encerrou no último dia 28 de maio, explicitaram, em carta aberta, como, em razão de divergências políticas, foram vítimas de “práticas de misoginia” e alvo de ofensas de cunho pessoal, durante todo o período em que atuaram na direção da entidade, a tal ponto de se estabelecer uma forma de oposição baseada na lógica do “inimigo interno”.
Concretamente, as colegas foram conduzidas a sofrimento profundo, que, inclusive, motivou sua decisão de se desfiliarem da entidade, e nenhum argumento retórico de deslegitimação, como o do suposto “vitimismo”, é capaz de abafar.
Por mais que alguns pudessem ter divergências com relação à gestão nada justificaria que se chegasse ao ponto de agressões verbais a que se chegou, notadamente em uma associação que prima pela defesa dos Direitos Humanos.
Não se pode, simplesmente, fingir que os fatos não ocorreram, assim como negar a sua gravidade, ainda mais em tempos de ascensão do fascismo e do negacionismo, até por conta do quanto as omissões reforçam e corroboram o machismo estrutural que marca a sociedade brasileira.
Assim, manifestando irrestrita solidariedade com as colegas e também como forma de imprimir a necessária reação de intolerância que se deve ter diante de tais práticas, venham de onde vierem, vi-me compelido a seguir o caminho por elas definido e igualmente a declarar minha desfiliação da associação, até o momento em que uma reparação histórica a respeito do ocorrido se verifique.
São Paulo, 29 de maio de 2021.