Jorge Luiz Souto Maior
Do filme “Cronicamente Inviável”, do diretor Sérgio Bianchi, extrai-se a mensagem de que as formas de dominação das relações sociais no Brasil teriam construído um sentimento cultural de que não basta explorar pessoas, há que se maltratá-las[1]. A Universidade de São Paulo, segundo as diretrizes adotadas por suas últimas administrações, parece querer fazer escola dessa lição, pois se já não bastassem a preservação de uma estrutura autoritária, a repressão sobre estudantes, professores e servidores, com vigilância, catracas, sindicâncias e até espionagens, a negação ao diálogo, a redução drástica do quadro de servidores, o desrespeito aos direitos de sindicalização e de greve, o incentivo à privatização por meio de fundações e apelo à terceirização, fazendo vistas grossas à Constituição, e o desestímulo à carreira docente de dedicação integral à universidade, chegou-se agora ao ponto da explicitação de uma violência gratuita, que só se explica mesmo a partir da noção explorada no filme referido. Jorge Luiz Souto Maior Achas mesmo que o que se passou comigo pode entrar em uma página de livro? Vá que seja, mas veja bem esta não é uma história com final definido.
Tudo começou com meu renascimento. Um dia, uma brisa, surgida ao modo da grande explosão que deu origem ao universo, foi crescendo até se tornar um grande vendaval. A força do vento empurrou a porta que me mantinha aprisionado em uma sala escura. Libertei-me e, rapidamente, espalhei-me entre os seres humanos. Graças à minha presença estes tiveram a percepção do que se passava nos campos, com a miséria, a violência e a tristeza. Já sabiam do medo, mas não se atreviam a explicá-lo. Aliás, nada, de fato, tinha nomes precisos, até porque a realidade das coisas era o que tinha que ser, por obra daquele em quem tudo se explicava. |
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November 2024
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