Prezados e Prezadas, Tenho nome. Me chamo Manuela Morais. Sou a presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto. Em nome do XI de Agosto, saúdo todas as organizações, estudantes e personalidades presentes neste espaço. Não há dúvidas do marco histórico que a presença de cada um aqui representa.
Como a primeira entidade estudantil fundada no Brasil, consideramos que era preferível que não houvesse, após 45 anos, a necessidade de uma nova carta aos brasileiros. Hoje, no entanto, surge como tarefa democrática a união de diversos setores da sociedade para defender as liberdades e os direitos pelos quais uma geração inteira de lutadores deram a vida para conquistar. É por essa razão que nós nos congregamos hoje.
Além dessa tarefa, faz-se necessária uma nova carta aos brasileiros e brasileiras para atualizá-la frente ao novo paradigma de lutas que estão colocadas na atual realidade nacional: se antes as universidades eram para poucos, hoje novos rostos, cores e saberes diversificam os espaços de poder político e intelectual no Brasil.
O dia XI de Agosto, nesse contexto, não deve ser apenas uma reação frente às intenções golpistas que rondam o Brasil, mas sim uma assembleia na qual aqueles e aquelas que se indignam com as injustiças do nosso tempo realizam um pacto coletivo para pensar para além da democracia atualmente existente.
Dessa maneira, é preciso ousar sonhar e caminhar no sentido da luta por uma democracia ainda inexistente no país. Não queremos a democracia da fome, a democracia das chacinas e tampouco a democracia dos ricos. Queremos a antítese da democracia que temos hoje, em outros termos, a democracia da diversidade, a democracia dos trabalhadores, uma democracia real. Queremos a democracia dos povos! A democracia de TODOS os povos e TODOS os povos na democracia!
Não somos ingênuos ou irresponsáveis. Sabemos que o caminho para esse projeto passa pela luta contra qualquer retrocesso na nossa atual ordem política. Trilhar o caminho da nossa luta é mais tranquilo se não houver obstáculos na estrada. E caminhar juntos é imprescindível!
Entendemos que ser jovem, como nós somos, é não ter medo de dizer o nome daquele que quer implodir as pontes existentes no nosso caminho até a democracia real. Jair Bolsonaro ataca as liberdades democráticas não apenas quando questiona a segurança das urnas ou quando vocifera frente às instituições.
Os cortes bilionários nos recursos da educação também são um ataque à democracia. A democracia sangra quando o governo nomeia interventores nas reitorias das nossas universidades. A democracia é sequestrada quando faltam vacinas, quando em meio ao crescimento do desemprego e da desigualdade social, não há taxação das grandes fortunas. O povo e, portanto, a democracia, morrem quando o 1% concentra a riqueza do restante das brasileiras e dos brasileiros.
É por isso que a defesa democrática não pode ser uma abstração formal. Deve ser, na realidade, uma luta material pelo direito ao pão e pelo direito à poesia. Só assim será possível honrar o sangue dos jovens que sacrificaram as suas vidas por esse sonho.
Nesse sentido, como representante dessa juventude que sonha, saúdo parte daqueles estudantes da São Francisco e da Universidade de São Paulo que deram a própria juventude para que a nossa voz ecoasse no dia de hoje:
Arno Preis, presente!
Henrique Cintra Ferreira, presente!
Wânio José de Mattos, presente!
João Leonardo da Silva Rocha, presente!
Alexandre Vannucchi Leme, presente!
Em nome de todos eles conclamamos: DITADURA NUNCA MAIS!
Não obstante, ecoamos a memória de toda a juventude negra e periférica que teve o seus corpos e sonhos assassinados pela violência do Estado. Sim! É preciso lembrar de todos aqueles que foram esquecidos pelo Estado de Direito: João Pedro, Chico Mendes, Dom e Bruno. Marielle Franco…
Neste ato histórico, pisamos no mesmo terreno sob o qual Luiz Gama aprendeu a lutar por um “país sem reis e sem escravos”. É uma enorme honra para o XI de Agosto continuar sendo o construtor da estrada de liberdade da qual Gama foi pedra fundamental.
Como afirmou outro mestre negro originado pelos Brasis presentes dentro do Brasil:
“Uma palavra puxa a outra,
Uma ideia traz a outra.
E assim se faz um livro,
Um governo,
Ou uma revolução.”
É com esse espírito de luta que iremos derrotar o ódio, que barraremos o fascismo nas urnas e nas ruas. Fazemos o chamado a cada estudante brasileiro: estejam em alerta, preparados e fortes. Ocuparemos as ruas em defesa das liberdades democráticas e dos nossos direitos. É por meio do sonho da juventude que a flor da democracia rasgará a rua!
Viva a juventude, os estudantes e o movimento estudantil!
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