Primeiro, o evento foi anunciado em vários veículos de informação como o “dia do enfermeiro”, o que é melhor do que “dia da enfermagem”, porque dá destaque a quem exerce a profissão, mas, por outro lado, desconsidera o fato concreto de se tratar de uma profissão majoritariamente exercida por mulheres, o que, inclusive, deve estar no centro dos questionamentos acerca da melhora das condições de trabalho no âmbito dessa profissão.
Em segundo lugar, as enfermeiras, de uma estágio de desvalorização e invisibilidade, foram alçadas, no contexto da pandemia da COVID-19, à condição de heroínas. No entanto, foi neste mesmo contexto que fórmulas jurídicas, como as MPs 927 e 936, possibilitaram pioras nas condições de trabalho das enfermeiras e enfermeiros, potencializando os riscos do trabalho e, com isso, contribuindo para o quadro tenebroso do recorde mundial de mortes e adoecimentos entre esses profissionais.
De modo concreto, na mesma nota comemorativa do “dia do enfermeiro” noticiava-se que o Brasil atingia o número recorde (proporcional e absoluto) de mortes (108) e adoecimentos (273) de enfermeiras e enfermeiros[1].
Ou seja, as trabalhadoras e trabalhadores que exercem a profissão de enfermagem estavam dando mostras de sua condição humana e afrontando o mito da figura do herói.
Fato é que, embora seja justo que se substituam os símbolos de quem devam ser considerados os nossos verdadeiros heróis, como muito bem articulado na mais nova obra de Banksy (acima), mais do que aplausos e rótulos, talvez essas trabalhadoras e trabalhadores precisem, no caso brasileiro, de iniciativas que estão muitos passos atrás e que começam com o necessário reconhecimento da sua condição existencial limitada como a de todas as demais pessoas, para que seus direitos trabalhistas consagrados na Constituição Federal e Declarações e Tratados Internacionais de Direitos Humanos sejam, enfim, respeitados.
Mas bem melhor podem falar sobre essas questões (e muitas mais) as próprias trabalhadoras.
Daí porque o Programa V do Resenha Trabalhista propõe uma conversa com:
- Cristiane Alves Tiburcio – fiscal sanitária da Prefeitura do Rio de Janeiro e enfermeira obstétrica pela RioSaúde;
- Karine Rodrigues Afonseca – enfermeira assistencial em hospital de reabilitação em Brasília;
- Samantha Oliveira de Queiroz – técnica em radiologia médica do Hospital Universitário da USP;
- Shirley Marshal Díaz Morales – presidenta da Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE); presidenta do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Sergipe - Conselheira Nacional de Saúde; e
- Sofia Barbosa – enfermeira na atenção primária em Belo Horizonte, mestranda em enfermagem na UFMG.
Sábado 16/05/20, às 19h00.
Transmissão pelos canais:
https://www.youtube.com/watch?v=JgGMIca3ViQ
https://www.facebook.com/JorgeLuisSoutoMaior/videos/1036668813394106/
Até lá.
Jorge Souto Maior
[1]. https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/no-dia-dos-enfermeiros-protesto-na-alerjrelembraos-108-profissionais-mortos-por-covid-19-no-brasil-1-24423743